Ainda sobre a posição do PS e Bloco de Esquerda relativamente à literacia financeira.
Como conseguiriam passar o discurso que Portugal até tem uma carga fiscal dentro daquelas que existem por essa Europa, se os nossos jovens conhecessem o conceito de "esforço fiscal" ?
Ainda sobre a posição do PS e Bloco de Esquerda relativamente à literacia financeira, não a acham óbvia ?
Como conseguiriam, por exemplo, fazer passar o discurso que afinal não, que afinal Portugal até tem uma carga fiscal dentro daquelas que existem por essa Europa, se os nossos jovens conhecessem o conceito de "esforço fiscal", e o soubessem explicar aos velhos ?
"A discussão sobre se Portugal tem ou não uma elevada carga fiscal é recorrente, e voltou às notícias recentemente. A carga fiscal é um indicador simples que facilmente mostra qual é a percentagem da carga fiscal a que a economia está sujeita face à riqueza total gerada (PIB). É um indicador relevante, mas quando é utilizado para comparar diferentes países, com economias muito distintas (tanto na riqueza gerada - PIB per capita -, como pelos diferentes custos de vista), este indicador peca por ignorar a capacidade que essa economia e os seus agentes (famílias, empresas, ...) têm para conseguir pagar esses encargos fiscais. Vejamos com um exemplo concreto. Portugal e os Países Baixos têm cargas fiscais parecidas (38% em Portugal e 39% nos Países Baixos), ambos abaixo da média da UE. Mas o PIB per capita holandês é 30% superior à média da UE e o nosso está 21% abaixo, em paridade de poderes de compra. Este baixo nível de geração de riqueza em Portugal, reflete-se também em salários muito inferiores aos rendimentos dos holandeses. O nosso salário líquido médio é de pouco mais de 15 mil euros, e os holandeses recebem acima de 40 mil euros. Mesmo que ajustemos os valores deles tendo em conta as diferenças de custo de vida, ainda assim o salário dos trabalhadores holandeses está acima de 32 mil euros, mais do dobro dos portugueses. Como tal, o impacto que uma carga fiscal percentual semelhante tem numa economia e na outra é claramente diferente. Perante os baixos rendimentos em Portugal, o cumprimento da carga fiscal média de 38% concorre inevitavelmente com necessidades básicas de uma família de classe média, como pagar a prestação da casa e do carro, o que se reflete numa taxa de poupança de apenas 6% nas famílias portuguesas. Por outro lado, a carga fiscal quase igual nos Países Baixos permite, ainda assim, alcançar taxas de poupança de 19% (números de 2022), ou seja, 3 vezes mais que os portugueses. E se considerássemos o valor nominal da poupança (e não a percentagem) a diferença seria ainda maior.
O conceito do esforço fiscal é fundamental para aferir o impacto que a carga fiscal tem no bolso dos contribuintes. Em termos de esforço fiscal, Portugal tem o 4.º mais elevado da UE, enquanto os Países Baixos estão do outro lado da tabela, com o 4.º mais baixo. Ou seja, em vez de olharmos cegamente para a carga fiscal e ficarmos contentes por estarmos abaixo da média e abaixo da maioria dos países mais ricos, deveríamos comparar com países com economias similares (em PIB per capita), e iremos concluir que a nossa carga fiscal é muito pouco competitiva com os países do "mesmo campeonato". Aliás, estamos acima de todos os países europeus com PIB per capita semelhante e também acima de todos os que nos ultrapassaram nos últimos 20 anos (será coincidência?). Ter uma economia de país de leste com um fardo fiscal a caminho dos países nórdicos é a receita certa para ficarmos acorrentados à eterna estagnação.
Convido-te a consultares o quadro +Factos onde apresentámos esta análise."