Legislativas 2025: estará o liberalismo a perder o gás?
A conversão diária baixou de 243, em 2022, para 60 votos.
Os resultados das Legislativas 2025 levantam questões interessantes, por exemplo:
Porque se registou a menor abstenção nos últimos 30 anos (35,62%), antes de contados os votos dos eleitores no estrangeiro? Em quem votaram maioritariamente os abstencionistas em eleições anteriores? O que os fez sair à rua, relativamente ao passado?
A que se deveu a derrocada do PS (Pedro Nuno Santos perdeu quase um milhão de votos em menos de ano e meio)? Se o eleitorado quis castigar a geringonça criada em 2015, por que deu a maioria absoluta a António Costa em 2022? Se não vê Pedro Nuno Santos como potencial primeiro-ministro, por que lhe deu apenas menos cerca de 50 mil votos que a AD, em 2024? Para onde foram os votos socialistas? Na situação actual, o PS vai garantir governabilidade a Montenegro?
A subida do Livre está a ser sustentada por erosão no eleitorado à sua esquerda, ou à sua direita?
A direita (AD, Chega e IL) vai aproveitar o facto de reunir mais de 2/3 dos deputados eleitos para fazer alterações à Constituição? Vão os partidos menores, mais prejudicados pelo cerca de meio milhão de votos válidos que não são convertidos em mandatos, em todas as eleições, forçar a introdução de alterações que permitam mitigar o problema (por exemplo, reduzindo o número de círculos eleitorais, ou adoptando um círculo de compensação)?
Deixo as tentativas de explicação, ou previsão, para os politólogos e comentadores.
O tema que me interessa é mesmo o abrandamento continuado na evolução de votos liberais. Estará o liberalismo a perder o gás, junto dos portugueses?
Vamos lá então, primeiro na forma de gráfico, e com a tabela de dados que o suporta:
O Tribunal Constitucional registou como partido a IL - Iniciativa Liberal, a 13/12/2017. Vamos assumir esta data como ponto de partida para a evolução de votos liberais em Portugal, para efeitos desta análise.
Segundo a Comissão Nacional de Eleições, a 06/10/2019 a IL obteve 67443 votos nas primeiras Legislativas a que concorreu, elegendo o seu primeiro deputado, João Cotrim de Figueiredo, pelo círculo de Lisboa.
Ou seja, nos 662 dias desde o registo do partido até às Legislativas de 2019, a IL conseguiu passar a mensagem do liberalismo a 67443 portugueses, ou seja, 102 eleitores por dia.
Nas Legislativas de 2022, 847 dias depois, a IL ganhou mais 206244 votos, formando o seu grupo parlamentar com 8 deputados. A “conversão” subiu para 243 novos liberais por dia, o pico registado até ao momento.
Seguidamente vieram as Legislativas de 2024, volvidos 770 dias, nas quais foram registados 46190 votos adicionais na IL. O partido conseguiu manter os 8 deputados, mas a taxa de conversão do liberalismo caiu para os 60 novos liberais, por dia.
Entretanto, a 11 de Março passado foi registado o PLS - Partido Liberal Social, uma nova bandeira do liberalismo, que conseguiu 7322 votos nas Legislativas de 18 de Maio.
Se somarmos esses votos aos 338664 votos que a IL obteve, chegamos à conclusão que foram registados mais 26109 votos liberais do que em 2024, 434 dias antes. A IL aumentou o seu grupo parlamentar com 1 deputado adicional, mas a taxa de conversão do liberalismo manteve-se nos 60 novos liberais, por dia, muito longe do pico de 2022.
Estará o liberalismo a perder o gás, em Portugal?
Até que ponto é que os vários erros que a Iniciativa Liberal cometeu nos últimos anos, na minha perspectiva, provocaram este efeito?
Erros como:
A substituição de João Cotrim de Figueiredo por Rui Rocha na liderança. Rui Rocha é empenhado e tenaz, mas menos carismático e eloquente. E a forma como essa substituição foi feita;
O afastamento da Carla Castro, deputada com competência reconhecida que concorreu pela liderança do partido, obtendo 44% dos votos;
A expulsão de Tiago Mayan Gonçalves, na sequência de falsificação de assinaturas na junta de freguesia da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, no Porto;
A manifestação de disponibilidade para integrar o Governo, durante a última campanha eleitoral, potenciando o voto útil na AD.
Ser liberal é difícil: exige inteligência, coragem e um grande coração. Não é para preguiçosos.
Projectos como o +Liberdade ajudam a combater a desinformação, e a semear as mentes das novas gerações.
Este agricultor sabe o que é semear uma árvore hoje, sabendo que provavelmente nunca usufruirá da sua sombra. Não está preocupado, não está ansioso. No entanto…
O que não se mede, não se gere. - Peter Drucker
Publicação actualizada com os votos dos eleitores residentes no estrangeiro, contados ontem, 28/05/2025.
De acordo com todos os 4 erros identificados, ainda adiciono mais um ligado ao afastamento da Carla Castro, quem não está alinhado com a direcção não tem espaço para existir no partido.. esta intolerância ás opiniões diferentes pode vir a ser o maior calcanhar de aquiles do partido