Via Verde: para manhoso, manhoso e meio.
A impossibilidade de pagar estacionamentos, abastecimentos, carregamentos eléctricos, ferries, etc… com novos identificadores adquiridos é um flagrante abuso da posição monopolista da Via Verde.
O identificador Via Verde foi adquirido em 20/10/2014, e trabalhou sem problemas nestes quase 11 anos. Não encontrei registos de despesas relacionadas com a sua manutenção.
Tem sido usado intensivamente para marcar a viatura em portagens, pórticos SCUT, estacionamentos e alguns abastecimentos, funcionalidades cómodas e que nos fazem poupar tempo. De bom grado estou disposto a continuar a pagar por elas.
A Via Verde sabe-o também, assim como sabe que, na prática, não tem concorrência no mercado. Sabe que pode praticar os preços e as condições comerciais que bem entender, justas ou injustas.
Um exemplo:
O semáforo amarelo começou a aparecer nas portagens. Poucos dias depois, o contacto telefónico que já antecipava:
“- Já deve ter reparado na luz amarela, nas portagens: o seu identificador precisa ser substituído.
- Onde me posso deslocar, para trocar a pilha? - questionei, já sabendo a resposta.
- Há bastante tempo que já não é possível substituir as pilhas dos identificadores, tem mesmo que substituir o equipamento.1”
Nos minutos seguintes, uma explicação sobre as alternativas em cima da mesa, (quadro resumo):
Se quero continuar a ter pagamentos cómodos e rápidos em portagens e pórticos SCUT, estacionamentos e postos de abastecimento, posso subscrever o serviço “Via Verde Mobilidade”, com um custo anual de 14,49€. Assumindo que a pilha do novo identificador dura 10 anos, o custo total da nova subscrição rondaria os 150€, mantendo o acesso aos mesmos serviços que já tinha. Uma vantagem inegável é a garantia: qualquer avaria nesse período resultaria na substituição gratuita, mas… em quase 11 anos o identificador actual nunca avariou;
Se estou disposto a abdicar da comodidade e rapidez no pagamento de estacionamentos e postos de abastecimento, devo subscrever o serviço “Via Verde Mobilidade Leve”, com um custo anual de 6,25€, ou seja, 62,50€ em 10 anos.
Perder rapidez e comodidade nos estacionamentos não é boa ideia. Já estou a ver a Mónica a chamar-me de forreta, de cada vez que tiver que procurar moedas ou deslocar-se a uma máquina para pagar.
O serviço “Via Verde Mobilidade Leve” não é apropriado para utilizadores intensivos;
Alternativamente, existe a possibilidade de comprar um novo identificador por 37,50€, o que a Via Verde chama de “Compra Autoestrada”. E tem 3 anos de garantia.
“Comprar um novo identificador por 37,50€ parece-me boa ideia. Assumindo que dura cerca de 10 anos, como este, o custo total baixa de cerca de 150€ para 37,50€. Gosto, vamos avançar com essa opção.” - digo ao meu interlocutor.
Não estava era à espera da resposta dele:
“- Se adquirir um identificador, não o pode usar para pagar estacionamentos, carregamentos eléctricos, abastecimentos, ferries, etc…, só pode usá-lo para circular nas autoestradas.
- O quê? Porque não, se já faço tudo isso com o meu identificador actual?
- São as condições comerciais da Via Verde. Não posso fazer nada quanto a isso.”
Senti-me ofendido.2
Entendo que a Via Verde tenha interesse em renovar os milhões de identificadores no mercado, (até para os compatibilizar com sistemas internacionais de pagamento). Entendo que aplique margem comercial sobre o custo do aparelho. Entendo que se cobre algo mais por um modelo de subscrição, com garantia permanente de substituição (leia-se seguro contra vetustez) , e que tente encaminhar os utentes para esse modelo, oferecendo a acesso a mais funcionalidades. Entendo que a busca contínua pelo lucro incentiva a inovação e é garante de qualidade. Entendo isto tudo.
Mas pedir-me 37,50€ para trocar um identificador sem outros problemas que não a pilha que ficou sem carga, e, paga essa verba, retirar-me serviços “básicos” dos quais já usufruo gratuitamente há anos…, ou exigir 15€ por ano para ter acesso a serviços dos quais já usufruía gratuitamente, enfim, merecia uma resposta à altura.
“Vou pensar, e depois digo alguma coisa”.
Ponderei as alternativas em cima da mesa: faltava uma. Não é a minha favorita, mas para manhoso, manhoso e meio.
Rondavam as 17:00, hora de recolher a Beatriz na escola.
Da 3GNTW à OnlyBattery, em Guimarães, são cerca de 33Kms. Na minha cabeça, trocar a pilha do identificador, passear no parque da cidade e levar as meninas a jantar num sítio diferente, (grato pela recomendação, Rui Araújo).
O Miguel Fernandes é um tipo porreiro, substituiu a pilha em 2 minutos. Abrir o identificador com uma lâmina apropriada, soldar uma nova pilha e testar a voltagem respectiva: 11€. Por extenso: onze Euros.
Depois, o chilrear dos pássaros no parque, as risadas com as traquinices da B, e uma boa picanha.
À volta, a ansiedade ao passar a portagem: raios, novamente semáforo amarelo! “Ó diabo, queres ver que vim dar esta volta toda para nada?!”
Mas não desisti: a Web ensinou a desactivar o identificador 48 horas, e reactivá-lo novamente, e…
Luz verde. E “boa viagem”.
PS: Se, aos 150€ dos 10 anos de subscrição “Via Verde Mobilidade”, deduzir 11€ da nova pilha, a deslocação a Guimarães e o tal jantar, não sei se financeiramente compensou, mas a alma ficou menos ofendida, e o estômago mais bem-disposto. ;)
Mais a sério, 150€ rastreando passivamente um índice global, durante 10 anos, significam cerca de 390€, diz a lente do tempo. É assim que a minha mente funciona: procurando ciclos virtuosos, todos os dias.
Abuso nº 1: a substituição da pilha de um identificador Via Verde demora 2 minutos, e custa 11€ na OnlyBattery. A Via Verde só não o permite porque não tem concorrência, e não tem um regulador que a obrigue a isso.
Abuso nº 2: a impossibilidade de pagar outros serviços (ex. estacionamentos, abastecimentos, carregamentos eléctricos, ferries, etc…) com um novo identificador adquirido na modalidade “Compra Autoestrada“, ao contrário do que acontecia com identificadores antigos, é um flagrante abuso da posição monopolista da Via Verde.