O adeus à Meta no meu telefone.
Privacidade uma questão de princípio, e as questões de princípio não são negociáveis.
A Meta (empresa responsável pelas apps Facebook, Instagram, Messenger, WhatsApp e outras), e a Yandex, usaram subterfúgios técnicos para seguirem a actividade dos browsers dos utilizadores na plataforma Android1, sem o seu consentimento.
Essa actividade foi recolhida e enviada para essas empresas, mesmo com os navegadores em modo anónimo.
Ora, eu até posso admitir que uma empresa espie a minha actividade enquanto uso as suas apps. Mais que admiti-lo, tenho-o como certo. Dois exemplos:
Quando uso o Facebook, Instagram, Messenger ou WhatsApp, assumo que a informação por aí transmitida é do conhecimento da Meta, e que ela vai usá-la em seu proveito, quer eu queira, quer não. Assumo que vai partilhá-la com parceiros de negócios. Assumo que essa informação é acessível por funcionários da Meta e desses parceiros, alguns deles com intenções dúbias. Alguns desses funcionários são meus amigos, ex-colegas ou conhecidos.
Se os funcionários da Tesla partilham vídeos das câmeras dos veículos, (imaginem que tipo de conteúdos lá aparecem), quantas cervejas é que vocês acham que custa o acesso a informação “privada”, na cloud?
Por estes motivos, não publico nas redes sociais informações que considero sensíveis, e quando quero transmitir informação sensível em tempo real não uso SMS, Messenger, Telegram ou o WhatsApp: faço-o via Signal. Até porque sei que a UE aprovou a espionagem de mensagens com o pretexto da detecção de conteúdos de abuso sexual de menores.
Quando uso o Android, Calendar, Chrome, Drive, Gemini, Gmail, Maps, Photos, Search, Waze, Youtube, etc… assumo que a minha actividade nesses produtos e serviços é do conhecimento da Google e dos parceiros da Google, que me querem “conhecer” para melhor me venderem publicidade, produtos e serviços. Assumo que essa informação é acessível por funcionários da Google e desses parceiros, alguns deles com intenções dúbias. Mais uma vez, alguns desses funcionários são meus amigos, ex-colegas ou conhecidos.
É por isso uso o Chrome exclusivamente para redes sociais, e o Firefox para tudo o resto. E é por isso que nos serviços da Google não registo informação sensível, dentro do possível2.
É por isso que digo aos meus clientes para não registarem informação sensível sobre plataformas de armazenamento de terceiros, (ex. Box, Drive, Dropbox, OneDrive, etc…) e se tiverem mesmo que o fazer, pelo menos que protejam criptograficamente esses conteúdos.
Agora o que eu não posso admitir é que aplicações no meu telefone usem subterfúgios técnicos para contornar a arquitectura de segurança do equipamento, e espiem a minha actividade fora dessas aplicações. Intencionalmente, durante meses, até as empresas responsáveis serem expostas.
Privacidade uma questão de princípio, e as questões de princípio não são negociáveis.
A minha vontade é abandonar completamente a utilização dos serviços da Meta, (não uso Yandex), desinstalar as aplicações e encerrar a conta pessoal e da empresa no Facebook e Instagram.
Não posso fazê-lo por vários motivos: neste momento apenas cerca de 10% dos meus contactos Facebook e Instagram me seguem via Substack, não tenho outra forma de seguir alguns contactos verdadeiramente interessantes, e não posso obrigar todos os parceiros de negócios a migrar do WhatsApp para o Signal, (mas deviam fazê-lo, se tivessem juízo).
A segunda melhor alternativa é abandonar as apps da Meta no telefone, e usar esses serviços apenas no desktop, num navegador exclusivo para o efeito (Google Chrome).
Por isso, Meta, no meu telefone, já foste!



PS: Doravante, se precisarem de feedback rápido meu, liguem-me, ou contactem-me via Signal.
Embora não tenham sido recolhidas evidências de abuso na plataforma IOS, tecnicamente é possível o mesmo tipo de abuso.
Mesmo quando existem alternativas seguras, e privadas, por vezes as vantagens de usar o serviço superam a perda de privacidade. Um exemplo é o Waze: seria trivial adquirir um GPS standalone, mas os alertas de eventos e presença de radares superam a perda de privacidade que é a Google e os seus parceiros saberem a minha localização geográfica. E, na verdade, sabem-no de qualquer forma, pela triangulação do meu telefone Android nas antenas de telecomunicações.
É o preço a pagar pelo mundo em que vivemos: como se diz por aí, “se o produto que usas é gratuito, tu és o produto”.